Reuniões de tomada de decisão dependem dos seus momentos finais. Tem sido assim nas conferências das Nações Unidas nas quais as delegações sabem que o recurso mais estratégico é o tempo. Mas considerações podem ser feitas.
De 92 para cá é incontestável o protagonismo do setor empresarial nos temas socioambientais e de sustentabilidade. Pudera, há 20 anos, sua postura foi defensiva em função do acidente de Bhopal na Índia, afetando milhares de pessoas.
O principal símbolo dessa mudança é a iniciativa da Fiesp, Firjam e Fundação Roberto Marinho, no Forte de Copacabana.
Lá se montou uma enorme estrutura denominada Humanidade, que representa a visibilidade que os empresários querem ter no "Desenvolvimento Sustentável" ou na "Economia Verde". O projeto de Bia Lessa é provocador e inteligente, com inovação e tecnologia aliadas a uma plástica instigante.
O resultado é incontestável: milhares de pessoas querendo conhecer e participar dos debates que reúnem empresários, sociedade civil, líderes ambientalistas, cientistas e autoridades governamentais. Com ampla cobertura da mídia.
A sociedade civil, na Cúpula dos Povos, faz mobilização em torno dos grandes desafios e dilema que temos pela frente.
A comunidade científica realizou reuniões na PUC RJ, buscando sensibilizar tomadores de decisão sobre a necessidade de compreender a urgência das evidências científicas de já estarmos no Antropoceno: a humanidade adquiriu uma "força geológica" que compromete irreversivelmente processos que asseguram a disponibilidade dos recursos naturais necessários a sobrevivência.
E os governos? Reunidos no distante Rio Centro, têm demonstrado incapacidade de encontrar um compromisso político que reconheça a gravidade e urgência da crise planetária, a começar pela ausência dos principais chefes de Estado: Obama, Ângela Merkel e David Cameron, dentre outros.
No caso do Obama, os diplomatas americanos estão mais duros na negociação que seus predecessores da era Bush Filho, com olho nas próximas eleições presidenciais. Nada mais equivocado já que os céticos não votam no Obama.
O Brasil está assumindo o pior papel possível. A diplomacia brasileira radicalizou a posição de aversão a risco, apresentando um draft incolor e inodoro, sem os avanços mínimos que poderiam justificar a energia e os recursos investidos na Rio+20. O ônus político será da presidente Dilma.
Fernando Henrique se esforçou na Rio+10 para que se avançasse em várias frentes, em especial na fixação de uma meta de energia renovável na matriz energética mundial. Lula em Copenhague quebrou o impasse norte-sul ao assumir que o Brasil estaria disposto a ter compromissos efetivos de redução de gases de efeito estufa.
Sarney ofereceu o Brasil como sede para a Rio 92 e Collor garantiu o sucesso da Conferência pelo seu engajamento político que geraram os resultados positivos da reunião.
Os negociadores brasileiros até aqui assumiram papel de maestros da orquestra da Rio+20. Nada mais natural ao país anfitrião, que cada vez mais se projeta no novo cenário internacional.
Esperemos que o Brasil lidere uma agenda audaciosa de compromissos de implementação. Que garanta ao PNUMA um novo status e recursos financeiros para o desenvolvimento sustentável.
Caso contrário, o Brasil fará o papel que o maestro da orquestra do Titanic fez há um século atrás.
Fabio Feldmann é Consultor em sustentabilidade